O tema da literacia financeira está, mais do que nunca, em cima da mesa.
O surgimento de novos meios de pagamento e formas de investimento em ativos digitais, tiveram o condão de acordar a sociedade civil e os partidos políticos para a necessidade de dotar os cidadãos, especialmente os mais novos, de ferramentas que lhes permitam gerir, da melhor forma, o dinheiro que têm na carteira.
Literacia Financeira: o que é e quais os seus impactos na vida dos cidadãos?
Na prática, a literacia financeira corresponde ao conhecimento e, acima de tudo, à compreensão dos conceitos financeiros que lhe permitem tomar decisões mais conscientes e informadas sobre a gestão do seu dinheiro em áreas tão diferentes como o acesso ao crédito, os investimentos ou a poupança.
Em termos concretos, o impacto da literacia financeira vai medir-se na forma como passa, por exemplo, a compreender as consequências de optar por um regime tributário em detrimento de outro, a perceber como utilizar um simulador de crédito para o ajudar a calcular o valor da sua prestação mensal e a utilizá-la para comparações entre diferentes propostas ou a aprender a distinguir entre um investimento de retorno garantido de um investimento de risco.
Dado este impacto na sua vida financeira, a literacia financeira afigura-se como uma competência fundamental para que possamos assegurar não só uma melhor gestão dos nossos ativos financeiros, como a alcançarmos a tão desejada independência financeira.
Benefícios da literacia financeira para a nossa vida quotidiana
A aposta na literacia financeira acaba por nos trazer benefícios significativos para a nossa vida quotidiana. Entre eles, os principais são:
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Incentiva a criação de hábitos de poupança
Conhecer o valor do dinheiro e o que fazer e não fazer para que ele continue do nosso lado, são conceitos que devem começar a ser inculcados desde a infância e que, já em idade adulta, nos levam a controlar a nossa “febre consumista”, fazer melhores escolhas e a perceber o impacto delas no nosso orçamento e apostar em investimentos que nos ajudem a multiplicar o dinheiro que temos disponível através, por exemplo, da criação de um fundo de emergência ou da contratação de certificados de aforro e PPRs.
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Compreensão dos novos ativos e termos financeiros
Com o advento e crescimento do digital foram-se desenvolvendo novos tipos de ativos e termos financeiros que vão marcar as próximas décadas.
Algo como criptoativos, moedas digitais ou NFTs, são apenas três exemplos disso mesmo e têm conquistado cada vez mais consumidores. Contudo, para se investir de forma informada, é necessário perceber como funcionam e de que modo se processa a sua valorização para que os consumidores não se deixem enredar em esquemas fraudulentos e lesivos da sua integridade financeira.
Assim, com literacia financeira, conseguiremos fazer investimentos mais conscientes e, sobretudo, com um menor risco, algo extremamente importante no momento em que estamos às portas de começar a utilizar o Euro digital.
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Ajuda-nos a planear o futuro
A literacia financeira ajuda-nos a obtermos um melhor e mais bem pensado planeamento das nossas ações futuras em temas tão complexos quanto delicados, como é o caso da reforma.
Saber em que consistem os PPR, quanto e como descontamos para a reforma e quais as consequências de nos reformamos com antecedência são, por exemplo, algumas das áreas que nos podem ajudar a garantir um futuro mais confortável para nós e para os nossos.
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Salvaguarda dos nossos direitos e cumprimento dos deveres
O dinheiro é o mediador da nossa vida em comunidade, razão porque traz atreladas uma série de regras que, por sua vez, contemplam direitos e deveres em assuntos tão diversos como o preenchimento da declaração de IRS, o que temos de fazer para termos acesso a benefícios fiscais ou a percebermos o escalão de rendimentos a que pertencemos.
O caminho da literacia financeira da infância à idade adulta
Como sublinhamos, a literacia financeira deve começar em tenra idade e, paulatinamente, indo sendo aprofundada com conceitos mais complexos que ajudem a que se chegue à idade adulta munidos das ferramentas essenciais para nos movermos com relativo à vontade no mar agitado das finanças pessoais.
Neste sentido, propomos, agora, um roteiro sintético que nos levará dos primeiros conceitos aos 6 anos até ao mundo complexo dos investimentos na transição para a maioridade.
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Entre os 6 e os 9 anos: o conceito de dinheiro
Quando as crianças entram no 1º ciclo do ensino básico, é a altura ideal para os introduzir ao conceito de dinheiro e explicar-lhes de onde vem e porque é tão fundamental para a sua vida.
A par da explicação de que para se ter dinheiro para comprar alimentos é necessário vendermos as nossas horas de vida a uma empresa/trabalho, esta é a altura onde se devem introduzir aos mais pequenos à ideia de poupança utilizando, para o efeito, o exemplo de guardar o dinheiro que recebem nos aniversários para poderem, no futuro, comprar um brinquedo que desejem.
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Entre os 10 e os 12 anos: distinguir a necessidade do desejo
Uma boa relação com a poupança começa com saber distinguir a necessidade do desejo. De modo a facilitar a tarefa, podemos aproveitar idas ao supermercado para lhes explicar que alimentos como a massa ou o arroz são produtos necessários, logo têm prioridade quando vamos gastar dinheiro, ao passo que chocolates ou rebuçados não são indicados para uma vida saudável e, por isso, são dispensáveis.
Esta parte da literacia financeira é particularmente importante porque “apanha” a criança na transição do 1º para o 2º ciclo do ensino básico, altura em que a pressão dos pares pode dar origem a pedidos constantes de compra de produtos supérfluos.
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Entre os 12 e os 14 anos: altura de comparar preços
Com uma maior maturidade, nestas idades é mais fácil ensinar os mais jovens a compararem preços de diferentes produtos e a escolherem aqueles que lhes oferecem uma melhor relação custo-qualidade-quantidade.
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Entre os 14 e os 16 anos: semanadas acompanhadas do primeiro orçamento mensal
Com as semanadas ou mesadas, é tempo de passar-lhes uma parte da responsabilidade na gestão do dinheiro que lhes é entregue e incentivar a que eles criem o seu próprio orçamento semanal ou mensal.
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Entre os 16 e os 18 anos: investimentos e gestão da sua conta bancária
A idade adulta e a entrada na universidade não estão longe, o que implicará uma explicação mais profunda sobre os investimentos financeiros, como se faz a gestão de uma conta bancária ou como pedir um crédito, algo extremamente importante para quem terá de pagar propinas e quererá comprar o seu primeiro carro.